segunda-feira, 30 de março de 2009

Uma foto para a eternidade

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Uma foto, tamanho convencional, 10x15cm, tirada em modelo sépia transparece os séculos passados. A menina no seu vestido cheio de babados, sentada nos trilhos da antiga ferrovia mineira. Percebe-se ao redor seu urso de pelúcia jogado a seu lado, enquanto a pobre menina olha na direção do por do sol no horizonte, entre nuvens que anunciavam tempos chuvosos. Esperando o trem, a doce menina mostra no olhar o medo da partida que a remete a tão adulta insegurança do porvir. O tom do desencanto está aparente em sua face pálida e assustada, com a expectativa de um retorno que nunca aconteceria. O trem está vindo e segundos antes de sair correndo para o embarque, o registro. Um flash, nada mais que no instante de um flash, esse foi o tempo da foto e da tão agonizante despedida que deixou uma incurável cicatriz aberta em seus sonhos. E então, a bela foto foi colocada em um porta retrato de moldura dourada para deixar gravado um passado sempre presente no futuro. Como eu sei? Eu era a menina.
Agrelli, Lívia.
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Homenagem para uma alma especial

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Preservando nomes, este versinho foi escrito para a pessoa que me apresentou quem se tornou meu segundo amor (vem depois de Vinícius, é claro). Hoje sinto por Caio mais que uma admiração, sinto-me viciada por ele (Vinínicus que não me escute, rs). Uma singela homenagem a uma alma especial que faz de uma alma deserta menos deserta...

Me soa
Um tanto
Hum quanto
Hum
Previsão?
Então não venho com versos
Nem mesmo com canção
O que preciso dizer
Vc sabe
Um tanto
Hum quanto
Hummmmm
Agrelli, Lívia.

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Ser seres

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Sou o fruto da terra, o fruto do mundo
Sou quem sou e o que escrevo
Nem sempre sou o que aparento ser
Sou sem medo de ser
Sou uma antítese, um paradoxo

Sou um simples ser

Agrelli, Lívia.

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Hoje é dia de parque

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Acordo num domingo ensolarado. Raios ofuscantes penetram minhas pupilas e me despertam do sono profundo. Sem opção na tv levanto-me e preparo o café matinal bem reforçado, afinal, hoje é dia de parque. Visto uma roupa confortável e saio em busca de me desprender do ócio que cerca a rotina diária. Uma longa caminhada até chegar ao parque, local mais atraente da cidade. No caminho me deparo com famílias reunidas em busca de apagar a solidão propiciada aos filhos após seis exaustivos dias de trabalho. A alegria está no olhar dos pequenos seres que aproveitam um dos raros momentos de comunhão familiar. Ao chegar à tórrida praça me deparo com a cena inusitada; aquele velho e arcaico chafariz esta lá, gritando água e matando a sede de euforia da criançada. A minha direita bicicletas velozes circulam o grande lago, à esquerda balanços alimentando gargalhadas antes esquecidas pela infância perdida. Nada de vídeo games ou computadores, escorregas aceleram os corações de pais e filhos, com a preocupação e despreocupação seguindo lado a lado. Entre saltos e tombos, castelos de areia são construídos em uma ação conjunta, como se aquele trabalho manual fosse a terapia semanal. A hora vai passando e todo clima de entusiasmo e festa parece não se apagar. Cada momento, cada risada, cada berro exaltado, misturados a uma pitada de calor humano contagia qualquer alma adormecida. Sorvetes, pipocas e algodão doce saciam a fome de brincar, mesclados aos refrigerantes que refrescam os corpos errantes. O dia no parque vai passando, as horas assemelham-se a segundos. As palavras prontas do livro que levei foram substituídas por outras de livre criação de meu imaginário. Quando me dou conta, as mãos a caminho do lar já estão dadas. Com chinelos calçados, e a sensação de dever paternal cumprido, as famílias retornam para o recanto do descansar. Mas até o caminho de casa o mais gratificante é o olhar satisfeito e o saltitar da inocente infância resgatada. Dá para reparar, não se fala em outra coisa a não ser planejar o próximo dia de parque.
Agrelli, Lívia.
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