quarta-feira, 27 de maio de 2009

Réu do crime que não cometi

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Com as mãos sujas do sangue que não toquei. Assassina de corpos e mentes que nem mesmo conheci e crimes que nem mesmo cometi. Culpada pelo crime de omissão, do silêncio, da conivência. Não sei como expressar tamanha dor. Tento unir reforços porém a impressão que tenho é que caminho em uma esteira. Desesperadoramente busco um refúgio de paz onde a única coisa que vejo sejam cores, que cheiro sejam rosas e que toco sejam pétalas. Jogo em meus ombros o peso de uma história escrita com o suor da humilhação. Passa por minha pela a sensação de apatia, verdadeiro estado de inércia, sem saber como transformar todo esse sentimento em algo construtivo. Lágrimas derramadas como canivetes cortaram os rostos daqueles que um dia sonharam simplesmente em viver. Sem luxo, ganância, ambição ou coisas do tipo, a única esperança era viver. Foram brancos, amarelos, negros que ficaram vermelhos. Na verdade vermelharam até a última gota que lhes sobrou. Por isso me sinto de uma única cor. Cinza. Como os vermelhos que tornaram-se cinzas. Após lavar bastante as mãos, olhe-as e sinta a sujeira que há nelas.
Agrelli, Lívia.
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quinta-feira, 14 de maio de 2009

A vida é um origami!

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A vida é um origami. Que devaneio! Mas pensando bem, num é que a vida realmente é um origami. Começa em um papel liso e em branco, com o movimentar dos dedos vai dando formas, volumes, tamanhos e interpretações, cada um com sua habilidade. Pare, pare, pare. Dobrou errado, volta uns três passos, se acha e recomeça de onde parou, mas não adianta, a folha já está amassada. Ignora as imperfeições e prossegue. Descobre uma dobradura diferente. Descobre dobraduras já existentes. Quase descobre dobraduras novas, se não fosse a fixação pelo modelo de dobradura pré determinado. Erra, volta, tenta, continua, acerta e erra novamente. Quando acha que conseguiu chegar ao final, percebe que ainda não chegou nem na metade. Agora falta o mais importante e que deveria ter sido feito desde o início: Colorir.

Agrelli, Lívia.

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quarta-feira, 13 de maio de 2009

Só mais um dia

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Anoitece. Eu na varanda, sentada na lendária cadeira de balanço familiar embalando meus pensamentos e desejos, enquanto neste mesmo zig zag faço outro balanço; o da minha vida. Depois de um dia cansativo, cheio de alegrias e frustrações, novidades e rotinas encho o peito e digo: Mais um dia. Com o atordoante silêncio da casa vago nas recordações que me trouxeram até aqui. Lembro-me de amores e amigos. Amores que se tornaram amigos, amigos que se tornaram amores. E hoje, estou aqui, só. Nem por opção nem por falta dela, simplesmente só. Permeio as decepções que me fizeram sangrar por dentro mesmo trazendo um largo sorriso como aparente espelho. Revivo as mentiras contadas, que às vezes de forma também recíproca deram fim a possíveis grandes histórias. Volúveis momentos de descontração. Gargalhadas efêmeras também fizeram parte dos tempos, nem que fosse de desespero. Distâncias que apagaram chamas. Chamas acesas sem menor distância. Mesmo que estivesse com alguém, continuaria a me sentir assim, só. A solidão não é somente um estado de espírito, e sim, um hábito de viver. Não se escolhe em ser só, somente se é. Olho ao redor e vejo que poderia ter amores e amigos, mas tenho somente a lua, que a pouco irá constelar outro céu e novamente me deixará só. E o sol aponta no horizonte. Novamente encho o peito e digo: Mais um dia, só.
Agrelli, Lívia.
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