Com as mãos sujas do sangue que não toquei. Assassina de corpos e mentes que nem mesmo conheci e crimes que nem mesmo cometi. Culpada pelo crime de omissão, do silêncio, da conivência. Não sei como expressar tamanha dor. Tento unir reforços porém a impressão que tenho é que caminho em uma esteira. Desesperadoramente busco um refúgio de paz onde a única coisa que vejo sejam cores, que cheiro sejam rosas e que toco sejam pétalas. Jogo em meus ombros o peso de uma história escrita com o suor da humilhação. Passa por minha pela a sensação de apatia, verdadeiro estado de inércia, sem saber como transformar todo esse sentimento em algo construtivo. Lágrimas derramadas como canivetes cortaram os rostos daqueles que um dia sonharam simplesmente em viver. Sem luxo, ganância, ambição ou coisas do tipo, a única esperança era viver. Foram brancos, amarelos, negros que ficaram vermelhos. Na verdade vermelharam até a última gota que lhes sobrou. Por isso me sinto de uma única cor. Cinza. Como os vermelhos que tornaram-se cinzas. Após lavar bastante as mãos, olhe-as e sinta a sujeira que há nelas.
Agrelli, Lívia.
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